Natal, 30
de junho de 2012.
Prezada poetisa,
T. L.
Banzoções!
Começo
por negar qualquer possibilidade de me afirmar poeta, posto que a minha
identidade possa realmente está nas palavras que profiro ou silencio, porque tu
és poetisa e sei que não só entendes, mas sentes; haja vista, tu bebes na mesma
fonte por teres como ofício o amor pelas palavras. Não há acaso quando todos os
caminhos convergem para o mesmo ponto em nome da arte; assim como não há
fronteiras quando a literatura serve-se de passaporte para transcender os mais
longínquos lugares que só a arte pode indicar. Digo isto T. L., por a vez
primeira, que te encontrei não eras tu docente, mas poetisa em meio um monte de
jovens, diga-se de passagem, graduandos que se deleitavam das palavras como
poetas livres a passarinhar de liberdade e de prazer num universo infindo de
vivências, que me fez refletir os tempos idos da década de noventa, quando
ainda na Universidade (UFRN), cursando Letras, sonhava por um ensejo como
aquele do CON-VERSA com PROSA, na Casa da Ribeira; e, a forma pela qual foi
conduzido o sarau poético me levou a fazer uma intervenção repentina,
certamente, levado pela sedução do momento; percebi que havias tomado um
comportamento digno de poeta nas ações, nas palavras desestruturantes da
primeira ideia drummondiana (declamando o teu poema paródia de QUADRILHA);
assim como no ato de servir água, ali, para os presentes, certamente numa
atitude bem franciscana (cristã, nordestina, maranhense) ou como digo numa
máxima que criei: AQUELE QUE QUER SERVIR; É PRECISO VIR A SER; e como tu mesma
dizes é preciso que saiamos do pedestal para quebrar o distanciamento entre
docente e discente para que este se sinta seguro com a nova realidade acadêmica
ou qualquer outra.
Ante
todo esse contexto não me atinei por nenhum instante sequer que tu, poetisa T.
L., serias a ministrante da disciplina: POESIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA, da
Especialização que estava a fazer, quando certamente na profundidade latente do
meu afã, tudo direcionava para essa realidade, e assim foi uma satisfação
arrebatadora vê-la quebrando toda a lógica de mestra, docente ou professora,
porque para mim e para muitos dos meus colegas, a todo o momento te fizeste
poetisa marginal por te fazeres popular (junto a nós) e por ficares à margem da
sala tradicional onde tudo começou (H4), ou seja, todos os encontros que
tivemos contigo foram em salas diferentes e mais uma vez tu te mostras distinta
nos apresentando uma forma poética de viver a vida, posto que literatura é vida,
e a vida sem literatura é insossa, porém há quem viva uma vida sem sal, fazer o
quê? Portanto, não me foi nenhuma
surpresa porque já te conhecia poeta em Drummond e agora em tantos outros que
nos trouxeste à luz dos nossos saberes, mormente, os chamados poetas marginais,
malditos, da década de setenta, estes que poeticamente foram beber nas fontes
românticas e modernistas tendo suas identidades nas palavras, assim como diz,
Oliveira Silveira no poema A PALAVRA NA PRAÇA: “A Palavra passei, toma sol, Lê
jornal e engraxa os sapatos. Que sapatos?...” Como também Chacal que diz: “É
proibido pisar na grama; o jeito é deitar e rolar”, Mário Quintana, Itamar
Assunção, Ana Cristina Cesar, Cacaso, Paulo Leminski, Torquato Neto, Waly
Salomão ou como o sociólogo Garcia Canclini que diz: “O popular é excluído”;
porém, diante essa mesma exclusão já não existe mais tempo para revoluções,
para marginalidade, para radicalismos extremos (costumo dizer que todo
radicalismo é suicida, assim como foi a ditadura militar, o comunismo, e as
vitórias do Flamengo), pois vivemos os tempos das incertezas, do
pessimismo, do paradoxo, da produção em
série, da pirataria, dos descartáveis; o urbano virou rural e este, urbano; os
shoppings viraram referência universal, pois está em Natal ou Nova Iorque não
mais faz diferença alguma; no século XX
o gênero do texto entra em crise, a contemporaneidade, não define bem o estilo,
não se nomeia; o mundo contemporâneo se dá de forma híbrida, sente-se saudade
do agora porque tudo passa muito rápido, as coisas são muito mais virtuais do
que reais, tem-se problemas imaginários, tais como síndrome do pânico,
depressão, estresse, onde o ter carro,
celular, status, dinheiro vale mais do que ser honesto, justo, humilde; quando,
ao invés de se Ter amor, sabedoria, humildade, se tem corrupção, insensatez e
crueldade, e “assim caminha a humanidade”, e a sociologia não mais comporta a
vida porque a Vida se justifica por ela mesma em nome da Literatura, da arte.
Amiga
minha T. L., redijo-te estas linhas no intento de te dizer que assim como
Platão foi antes poeta para que se fizesse filósofo e Nietzsche filósofo, sendo
poeta; tu, assim como ambos, já nasceste poeta, por isso és uma excelente
professora que encanta a todos nós com a tua forma desprendida de conduzir as
tuas “aulas” num hibridismo (docente\poeta) interativamente gostoso de viver.
Poderia
me alongar por demais nesta missiva, por ter sido um estilo de escrita que me
levou a ser o que sou hoje, enquanto identidade no logos, quando residi em Sampa
por dez anos, onde até então guardo comigo 500 delas (cartas), não como belas
lembranças apenas, mas acima de tudo como signo de que a minha mutação é
constante por força da palavra. Por isso, encerro esta por aqui lhe
parabenizando pelos cinco belíssimos encontros que nos proporcionaste em POESIA
BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA no curso de Especialização em Literatura Brasileira.
Abraços
filopoéticos!
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