Quando pequeno, não o consideram poeta, mas príncipe. Eis a melhor denominação para um pequeno poeta.
Não. Não faz muito pouco tempo que mãe, a palavra, tem deixado muitos versejadores, trovadores atônitos, preocupados e frustrados por não encontrarem o significado real ou ideal para um signo tão venerado, como é a palavra MÃE para uma rima perfeita.
Mãe é um dos infindos vocábulos que a nossa língua possui, e que até então, desconhecia que pudesse haver um outro signo que viesse formar um homeoteleuto (rima) perfeito, elevando assim, a satisfação de muitos poetas da língua portuguesa. Encerrando de uma vez por todas com a ideia de que mãe só rima com ela mesma, isto é, sem desmerecer logicamente, o adágio popular de que mãe só existe uma, e disto não temos dúvidas.
Se os neologistas quisessem, poderiam ter criado há muito tempo um inusitado vocábulo para a palavra Mãe, mas não, os poetas não haveriam de ter tamanha ousadia, sentiam em seu âmago que tudo podiam fazer menos isto. E nenhum quis arriscar? Em criar uma palavra que não perdesse a sua função nem a sua essência etimológica? Tudo parecia impossível. Aliás, era impossível mesmo.
Será que é mesmo impossível? Realmente, eu também não tenho dúvida que é impossível. Impossível quando já se cresceu demais. E todos os poetas são grandes e crescidos porque já se fizeram homens. As pessoas grandes veem as coisas por um único prisma, o da convenção, e só um príncipe, digo um pequeno príncipe, é capaz de ver (as coisas) por ele mesmo, diferentemente dos poetas grandes. Quando pequeno, não o consideram poeta, mas príncipe. Eis a melhor denominação para um pequeno poeta.
E só mesmo um pequeno poeta aos dois anos de idade para desvendar o enigma da rima da palavra Mãe, que por anos, séculos até, quem sabe poetas, escritores, etimologistas, filólogos, neologistas tentaram, procuraram e não conseguiram. E só agora, na iminência do século XXI, uma criança, a flor de sua existência infantil, sem a mínima intenção ou preocupação dos ditos intelectuais, ditos grandes, ditos homens, em sua candura, nos dá sabiamente a chave do mistério, assim como um Édipo na sua precocidade nos livra, não das garras da fera, mas das intermináveis frustrações sofridas noites a fio em busca de uma palavra que jamais poderia ser encontrada por uma pessoa grande.
Os pequerruchos brincavam lá no quintal e, quando já exaustos dos seus afazeres de todos os dias, entram de casa adentro, pela porta da conzinha, a salvar do infortúnio da palavra, todos os poetas do século vindouro:
- Mãêêê!
- Paêêê!
Encontram-se com a genitora:
- Mainha onde está painha?
- Painha onde está Mainha?
Aí, o poeta no computador salva a sua poesia e se sente aliviado. Mas se esquece de que terá que pagar os direitos autorais ao pequeno poeta.