"Até que a morte os separe, ou, até que as três décadas se consumam."
Pois é, e tudo passou como se fosse um verdadeiro sonho de 3 segundos, trinta dias, ou mesmo de trinta anos. Não, aqui, nada é como se fosse, verdadeiramente, tudo é, foi e existirá mesmo entre sonho, desejo, expectativas, conquistas, decepções, realizações, afirmações e negações; renúncias constantes, opções únicas e exclusivas, prioridade unilateral, onde não se pode questionar o óbvio ululante, por que o que se foi acordado, acordado estar pelo compromisso da existência temporal de trinta longos anos ou mais, enquanto vividos intensamente, porém quão efêmero, quando extrapolado pela constância da não ansiedade e tudo renasce para uma nova existência de dor, de perda, ou, de amor e de ganho.
Contudo, quem vai determinar essa linha é o próprio tempo dentro do preenchimento das lacunas inexoráveis que irão existir e que deverão ser administradas ou, que já deveriam vir sendo administradas com bastante antecedência, senão, o choque da perda é muito maior do que o impacto do ganho.
Dependendo do referencial, para uns, a grande maioria, tudo é uma grande perda. É possível, se conviver como se fosse matrimonialmente com um ser e de repente se ver largado, mesmo acordado que esse laço estava determinado a ser desfeito? (até que a morte os separe, ou, até que as três décadas se consumam). Assim é a realidade dos que doam a sua vida em nome do seu ofício, após labutarem trinta, ou mais anos, como funcionário público civil ou militar. Quantos e quantos terminam por preencher a perda, a lacuna com a doença mais clássica do nosso tempo, o tal estresse, ou senão, a melancolia, a depressão, o aperreio e outros males tantos, cada vez mais inusitados, nesse contemporâneo mundo no qual vivemos denominado de nova era.
O problema é a falta de eco àquilo que antes se fazia com tanto zelo e esmero, onde tudo estava programado para dar certo, igualmente a uma máquina, um trem, sobre os trilhos do sempre programado e estabelecido “destino”, onde as curvas não precisam de esforço nenhum para se atingir o objetivo. E quando se veem a guiar o seu próprio destino diante uma infinidade de tempo disponível para administrá-lo, se tornam incapacitados e vencidos pelo monstro da rejeição! Diga-se de passagem, que tudo não passa de uma rejeição psicológica, porque é justamente nesta hora em que o mundo espera por uma boa e sábia resposta individual ou pessoal, digo ainda, um posicionamento autônomo, uma atitude inusitada e independente, para mudar tudo que há a seu redor, porque agora, tem um trunfo poderoso que é o belo e maravilhoso TEMPO inteiro a seu inteiro dispor.
Sabe aquela história do passarinho que viveu o tempo todo preso, e quando se abre a porta da gaiola ele continua, ali, “preso”, como se não mais tivesse asas para voar no espaço infindo da liberdade; e aquela outra, do elefante que é preso quando pequeno, por uma corrente e, cresce e fica forte, mas continua com a mesma corrente de quando era pequeno, desconhecendo o poder da sua força hercúlea. Certamente, muitas vezes somos todos passarinhos e elefantes presos em gaiolas e correntes socialmente imaginárias, impostas pelas convenções.
O outro referencial ainda muitíssimo raro são os que quebrarão os grilhões e verão as portas da caverna, da caserna, da taberna, literalmente abertas para resgatarem o tempo perdido naquilo em que o ofício ou o mito lhe “cerceou”, (por vezes, um compromisso selado e/ou por juramento até), muitas vezes num átimo de devaneio, em querer ser, enquanto pessoa sonhadora e inacabada de desejos e realizações, algo mais e mais daquilo que todos somos capazes de sermos por nós mesmos, em nome do amor, da simplicidade e da solidariedade naquilo que quisermos ser. Isto é, tudo na hora em que está a se despedir da amada ou do amado, do emprego, da ilusão ou da própria vida de um ente querido nosso.
Há de se ter sabedoria para aceitar as despedidas que a própria natureza nos impõe. Mas afinal, quem é que se prepara para a morte de seu ente querido? Que eu saiba, nem eu, nem ninguém! Mas assim, é que é despedir-se sabiamente.