ESTATÍSTICA DIÁRIA

ADMIRADORES DAS IDEIAS

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A POESIA EM PROSA


 DECLARAÇÃO DE AMOR  À POESIA

Prezada Poesia,

Abstrações mil!!!

            Há muito que vivia latente e sempre quis exprimir do meu âmago anímico a essência que se referisse única e exclusivamente à abstração, isto é, pela metáfora ou figuração. Hoje, certeiramente, posso contar com você minha Poesia minha, e dizer, sem constrangimento e sem receio, de que partilha poeticamente do meu existir.
Apego-me à metáfora para nomear redundantemente Poesia em Poesia. Sim, teu nome. O teu nome  é Poesia como sempre foi poesia e que, a partir de agora, passará a ser muito mais... porque a tratarei poeticamente. Assim como Drummond tratava sua poesia de Lyo ou Lio; Umberto Eco a tratou de Rosa, em O Nome Da...; eu, a comparo a Ema Bovary, mas a prefiro Poesia que assim me satisfaz mais dignamente à abstração que sempre ansiei. Outros (poetas, sonhadores) a terão puramente por inspiração; eu, especialmente, a terei – além da inspiração e da transpiração – por abstração, esta que difere respectivamente de Drummond e de João Cabral, porque o teu nome transcende a poesia de todas as Estéticas por ser Poesia em poesia de corrente lirismo – a minha real abstração.
O meu eu em ti (Poesia) como a minha realização pessoal é o meu emimesmamento demasiado com os meus eus de mim, os quais diferem dos heterônimos pessoano, porque são autodenominações, auto-homônimos dos eus exclusivamente sociais que o teatro da vida exige-me que seja representado, isto é, como um mirífico refúgio à sobrevivência. Entre todos os eus, é a vida Emeceana (Poeta-Poesia) a que me faz estar mais e mais prisioneiro de ti minha Poesia minha para que eu me sinta livre de veras.    
O meu eu lírico é shakespeareano, é trágico como o teatro em Sófocles; já os meus eus estão mais para a lenda de Narciso em que Oscar Wilde, sensivelmente, transferiu e atribuiu até para o lago – literalmente lágrimas –  o narcisismo, este que não é menos demasiado do que a minha admiração por mim, pois não choro a morte de Narciso como o lago, mas tenho lamentado o meu próprio fenecer pela degradação do meu teatro. Aqui sim é que é tragédia – não a grega –, mas a tragédia universal, da qual ninguém está isento,  marcada pelo crudelíssimo e inexorável tempo limitado pela vida, porém, eternizado com sabedoria no amor, na Poesia  e na abstração que ora me vejo submerso.
Ser lírico é ser romântico tal qual estética de outrora que sempre esteve presente em mim a me fazer um eterno nefelibata por me abstrair demasiadamente com o teu nome Concreta(mente) na tríade Augusto-Décio-Haroldo e no Realismo machadiano quando te leio os olhos D’alma, tal qual os de Capitu em ressaca,  e vejo fluir ao mesmo tempo a essência de fêmea-menina-mulher a me exprimir – ainda que timidamente – de teu âmago o que é de ti (Poesia em Poesia); o que é de teu ser, de tua alma e, acima de tudo, do teu nome: Poesia. O teu nome, o qual nunca me cansarei de clamar e de cantar... Poesia, POESIA, PO-E-SI-A.

           Do teu sempre Poeta.      

        

A POESIA  PROPORCIONANDO ARTE

                Outrora, a poesia estava comigo e partilhava da minha existência assim como a amada do trovador nas Cantigas de Amor, ou, como para o poeta, a amada no Romantismo. Neste, por um amor idealizado, naquelas, pela  inacessibilidade do seu amor. Todavia, apesar da intencionada abstração que tanto tenho alardeado no mais íntimo do meu afã, sinto a cada instante a Poesia muito mais próxima de mim parecendo querer se materializar, e de repente me vem à consciência o espírito filosófico, e o logos se instaura em Platão ou a razão poética impregnada do Concretismo cabraliano revestido de transpiração, a se manifestar implorando com toda a razão de um coração, dizendo:
           
Não, minha poesia minha, não te materializa não Permanece em teu estado latente Longe dos meus olhos e dentro do meu coração Que só assim eu ficarei contente.
A poesia que antes sempre estive a expressar sobre os seus sentimentos mais íntimos, agora me vem a mim  e expressa por ela mesma, com muita beleza, o que nenhum poeta jamais conseguiu exprimir e, se assim o fez, fingiu descaradamente como nos colocou muitíssimo bem o poeta português, Fernando Pessoa, ao dizer incluindo a si mesmo sem receio:
           
            “O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que de veras sente.”
Como o poeta pode ousar tanto em querer falar da poesia? Isso é impossível, inexiste e qualquer intenção que se pretenda é vã, inútil. Só a poesia é que pode falar de si mesma. Só ela conhece a si mesma ante mesmo de Sócrates querer filosofar sobre o “conhece-te a ti mesmo” ela já transcendia a qualquer filosofar, posto que já era a própria forma de se filosofar em Parmênides. A Poesia fala com emoção-razão inspirada numa linguagem camaleônica, aí o poeta se confunde, fica indeciso sem saber ao certo o que é real ou irreal. Se verdade ou se verossímil. O poeta é invadido pela dúvida shakespeareana em Hamelet – Oh dúvida cruel, crudelíssima dúvida! É o jogo eterno das (in)certezas entre a dissimulação e a revelação...

E ante esse transcendental jogo dicotômico de coisas vou mergulhando nesse aquário de momentos repletos de águas de idéias literárias e filosóficas que só a Poesia sabe proporcionar com tanta sutileza, e assim, vou também suavemente mergulhando nesse mundo da arte sem receio.

Mas, nesse aquário não se mergulha qualquer peixe Tem que ser o rei-deus dos mares – não Netuno –, mas o tubarão Pois que nesse mar limitado, pode aparecer um tufão E abalar esse pequeno oceano que se chama coração No qual um único peixe é que pode navegar Assim como nas águas de um mar nunca dantes navegável? Sim, porque assim como em “Os Lusíadas”, Camões, Também me faço pioneiro e desbravador Desse momento inusitadamente feliz de amor Porque são de bons momentos em que se vive a vida Como em “Instantes” do argentino Jorge Luiz Borges.  Nesse aquário de prazer Vinícius dá a sua contribuição E diz que o “amor seja eterno enquanto dure” Ainda que seja num ínfimo espaço desse aquário de cristal.

Poeta e Poesia degustaram na arte culinária, Discorreram sobre idéias afins e diversidade íntimas, extra-arte E fizeram do momento belíssimo uma realidade ameaçadora Por causa de um olhar perscrutador próximo-distante Com se a cena quisesse negar o que estar em Madama Bovary Um olhar gritante que poderia ter estilhaçado o aquário de cristal E tudo se acabasse literalmente em água... Mas não, deu-se em ave. A poesia atendeu ao clamor do poeta e se manteve intactamente abstração E assim podemos transpor o ínfimo e sufocante espaço do aquário Para que, nas asas do pégaso fizéssemos a nossa Odisséia.

No primeiro pouso visitamos a arte poética em Pessoa E fomos diretamente à sua “Autopsicografia” de fingidor Onde a Poesia leu-me belamente versos de amor Entre a suave brisa que emanava do Atlântico E o saboreio de sorvete de chocolate crocante – recheio brigadeiro. Era o idílio bucólico na noite cálida de agosto Recitado pela ninfa com uma beleza íntima Que só uma deusa sabe fazer uso, para seduzir o coração do Poeta.

Para imprimir bem esse momento, proporcionado pela Poesia, foi na arte da pintura que a beleza realmente transcendeu mirificamente, e negou com sapiência  a banalidade entediante da qual vivem reles mortais  atordoados pelas convenções.   Na sala de exposição entre tantas belas-artes como “Pescadores” de Di Cavalcanti, “Independência ou Morte” de Carlos Scliar, “Figura” de Milton Dacosta  foi justamente a de Anita Malfatti,  cuja intitulação estava contida na própria obra  “Valência”, que caracterizou  tudo aquilo que a Poesia intencionalmente queria  expressar para o Poeta seu. Foi na obra malfattiana que este Poeta desvendou que “Tudo Vale(ncia) apenas, Quando a alma não é pequena” nesse metamorforsear de belas-artes-poética.

No segundo pouso, Poeta e Poesia estavam na galeria de artes. E em “Valência” tudo valeu, vale e valerá para sempre Como essência genuína segundo a percepção do Poeta. “Valência” é o retrato de tudo que é arte bela, como a música, a escultura... E entre todas as artes está também o que é e o que não é Está o olhar de admiração do leigo visitante Está a apreciação perscrutadora do amante – da arte Está o olhar de soslaio tímido  do leigo ou transeunte. Por fim, “Valência” não é mais “Valência” como prima obra Para tantos que se valeram em admirá-la repetidas vezes E a cada vez se perderam no infindo universo da obra malfattiana. “Valência” agora nós é um ícone que irá marcar o belo  momento vivido O qual nos insere na obra como parte essencial da emoção sentida. “Valência” é como uma imensurável janela que nos faz continuar a nossa Odisséia Agora, via janela de “Valência”, para o infindo azul celeste do nosso afã. “Valência” vale para si mesma como obra-prima “Valência” vale para tudo e para todos os seus amantes Assim como, Mário de Andrade, poeta modernista  Que nunca se cansou em admirá-la por muitas e muitas vezes E como também o fez Francisco Ivan, Dr. em literatura - como me assegurou enfaticamente a Poesia. E por fim, fizemos nós – Poeta e Poesia – o mesmo por três vezes apenas, Mas que não nos isenta de estarmos naquele livro fechado Na fusão entre artesão e artesanato ou poeta e poesia A dançarmos da partitura a canção, a admirarmos no jarro o artesão, O músico no violão como se no todo ou na parte  Houvesse sempre e sempre algo de (todos) nós.