ESTATÍSTICA DIÁRIA

ADMIRADORES DAS IDEIAS

segunda-feira, 22 de julho de 2013

III LIVRO: POVAREJO EM DOBRO - NATAL-RN, 2008






EM LITERATURA DE CORDEL - ROSA REGIS


INDIFERENÇA 


Final de um dia de ócio
Onde o crepúsculo fenece...
E o relógio do tempo,
Por Lucina, esclarece:
- Já são mais de vinte horas.
Foi-se a hora da prece.

Somos privilegiados
Com uma noite de verão
E a leve brisa do mar
Adentra o nosso portão
Embalando, docemente,
A rede de algodão.

Sentimos um arrepio
Quando acariciados:
Eu e nosso pequenino
Filho, que está ao meu lado.
Mas é um frio gostoso!
Com gosto de mar salgado.

A porta entreaberta,
Facilitando a entrada
Da leve brisa marinha,
Faz que eu, numa piscada
De olhos, veja uma coisa,
Para mim, inusitada:

Um vulto... uma coisa estranha,
Velozmente, vi passar.
- Aquilo não era o vento!
Vi-me, assim, a matutar.
- Seria algum animal
Buscando a fome matar?

Acontecera ali!
Debaixo do meu nariz
E do da mãe do pequeno,
Que, bastante aflita, diz:
- Você viu o que eu vi?
E um sim com a cabeça, fiz.

E, intuitivamente,
Sem hesitar, respondi:
- Foi um gato, minha filha!
Porém, no íntimo, senti
Que não era o que eu pensava
Daquela coisa que eu vi.

Porém, Yrla, que é o nome
Da mãe do nosso filhinho,
Resolveu passar a limpo
Aquilo, e, de fininho...
Aproximou-se da porta...
E, aí, ouvi um gritinho:

-Meu Deus, um homem! Gritou.
Já meio desesperada.
Pois que o “bendito homem”
Já tinha dado entrada
À nossa casa – no alpendre
Fitava-a, sem dizer nada.

Embasbacado, fiquei,
Vendo tal ser, matutando:
Seria aquilo um homem?...
Deus meu! Que estou pensando?
O bípede andava de quatro,
À parede se escorando.

Era mesmo feito um bicho!
Lembrou-me Manoel Bandeira!
Foi em direção ao lixo
Como coisa corriqueira.
Para ele parecendo
Não ser essa a vez primeira.

E enquanto escavacava
O latão lá no quintal,
Cheio de lixo, eu ficava,
Com a mente em salto mortal,
Buscando entender aquilo,
Para mim, fenomenal.

Eu observo o tal “bicho”
Cheio de admiração
E imagino o quanto ele
Diminuíra, então,
Para conseguir passar
Entre o portão e o chão.

O larápio esfomeado,
Pele e osso, um quase nada,
Induzido pela fome
Venceu fácil a empreitada
Na penumbra da noitinha
Buscando o lixo e mais nada.

Infinda era a sua fome!
O seu corpo deixa ver
Inanição esquelética
Que me faz emudecer.
Como um ser naquele estado
Consegue sobreviver?!

Na rede estava deitado.
Na rede permaneci.
Brincando com o meu filho,
Recolhido... refleti:
- Minha nossa!... “A fome cega”!
E a frase repeti.

Enquanto eu pensava, Yrla,
Desesperada, assustada,
Com aflição me chamava
Pra resolver a empreitada:
Pegar a pobre criatura
Que ali estava acuada.

É que, àquela altura,
Já tinha sido expulsada
Por outra, que não deixara
Que ela, pobre coitada,
Se alimentasse dos restos
Dos quais já estava apossada.

Pois o dono do latão,
Um inato predador, 
Em sua essência, antropófago,
Parece que algum fator
Modificou-o. E, dos restos,
Tornou-se um consumidor.

Na sua forma de ser
Teria que procurar
Sua própria presa/alimento:
O com que se alimentar.
Porém, algo em si mudou:
Ele parou de caçar.

E agora, insatisfeito
Com a presença do invasor,
Do esquelético alienígena,
Com as entranhas, com ardor,
O dono do lixão luta
Como um auto-defensor.

Ali está sua vida,
Seu meio de sobreviver.
Não precisa procurar.
E ele vê aparecer
Um estranho, que poderá
A situação torcer.

Mas, eis que, de chofre, surge
Alguém que o muro saltou!
E, ao intruso faminto,
Sem qualquer dó, enxotou:
Mandando-o de volta à rua,
Lugar que o originou.

E aí, mais uma vez,
O homem vê-se obrigado
A encolher-se em nicles,
Sem ter a fome matado,
Passando sob o portão.
Triste. Decepcionado.

Com a barriga vazia
E vazio o coração,
Até a alma... faminto 
De paz e alimentação.
Falta-lhe tudo na vida:
A paz, o amor, o pão.

E eu... na rede... a pensar...
“O lixo também é pão...”
Enquanto o pobre homem,
De volta, sob o portão,
Passa com a velocidade
Tal qual a sombra, então.

Só que, agora, demonstra
Um desespero sem par:
O alimento almejado
Não conseguiu alcançar.
E, com as forças que lhe restam,
Demonstra isso, a gritar.

E o seu grito estridente
É de cortar coração!
Até dos mais insensíveis,
Que acham que bem estão
“Alem do Bem e do Mal”,
Além da Fé e da Razão.

Eu, inerte em minha rede,
Com meu filho a balançar.
Yrla, na porta, parada!
Ainda a esperar
Que eu saia do meu marasmo
Para o invasor expulsar.

Mas, sequer movi um dedo
Para sair de onde estava!
E, ainda a balançar-me,
Vi o homem, que passava,
Quase a chorar, correndo
Do outro que o rebocava.

Estava sendo expulso
Pelo “dono” do lixão,
Um seu igual que, também,
Tinha, o lixo, como “o pão 
de cada dia”. E não dava
Pra dividir pra dois, não.

E, eu, particularmente,
Comigo mesmo a pensar:
Ficara muito contente
Em não ter ido pegar
Aquele pobre coitado.
Mas algo pôs-me a intrigar.

Pois, mesmo me parecendo
Ser insignificante,
Aquele vulto chamou-me
A atenção, no instante
Em que o vejo passar.
É algo mesmo intrigante.

É que eu tive a impressão...
Forte impressão! De ter visto,
Tanto em um como no outro,
E eu não esqueço disto:
Rabos longos – longas caudas.
Seriam o anti-Cristo?

Isto foi a única coisa
Que eu pude observar,
De soslaio, nos tais seres,
Que me pareceram estar
Fora da realidade.
N’outro plano se encontrar.
...
“Mas quanta indiferença”!
Disse Yrla, ao se voltar
Para mim, com um sorriso
Que pôs-me a duvidar:
- Será mesmo que dormi?!
E tudo isso que vi
E ouvi, foi a sonhar?

Natal-RN – 2007


HOMEMORCEGOMEM


Numa velha biblioteca,
De mangueiras, margeada,
Que, de esperar visitantes,
Já se vê desenganada,
Pois por dias e mais dias
Vários Josés e Marias
Passam de venta virada,

Passa-se a estória em curso
Que passo para os Senhores:
Uma estória de sustos,
De abstração e terrores.
Uma estória sem malícia
Que parece fictícia,
Mas onde há prazer e dores.

É um espaço agradável
Onde se lê com prazer:
Arborizado e arejado.
Tenho que reconhecer!
Porém atrai, afinal,
Outra espécie de animal
Que ao homem traz desprazer.

Morcegos que, atraídos
Pelos frutos, competir,
Vem, o espaço com o leitor
Que ali vem se distrair:
Memor, homem aposentado
De meia idade, que é dado
A ler pra se divertir.

Pois ele faz da leitura
O seu lazer exclusivo.
E naquela época do ano
O espaço tem atrativo
Para os morcegos que buscam
Fugir à luz que os ofuscam
Em meio ao arquivo ativo.

Penduram-se pelos caibros
E ripas daquele teto
Que, sem luminosidade,
É o refúgio, por certo,
Que eles querem para si
De dia. E à noite, ali,
Têm alimento por perto.

Memor, que gosta de ler
Bons livros: de Jorge Amado
E outros, de preferência:
Romances, acostumado
Que está, depois da soneca,
Da sesta, à biblioteca,
Vem pegar livro emprestado.

Certo dia estava ele
No seu taciturno mundo
De leitura, quando sente,
Apenas por um segundo,
Um vento frio na nuca.
Isso faz que sua cuca
Pense em algo do outro mundo.

Os nervos à flor da pele;
O coração em tumulto:
Num bater desordenado, 
Ao julgar ter visto um vulto.
O corpo arrepiado,
Denuncia o seu estado.
Ao além faz um insulto.

Mas, pouco tempo durou,
Nada mais que um instante,
O susto. Pois descobriu
Quem fora o meliante
Que tanto o assustara
Quando ali adentrara
Em um belo vôo rasante.

Fora um morcego que, ali,
Bem à vista de Memor,
Num caibro, tal qual um pêndulo
De relógio, causa horror
A este que, a imaginar:
“Meu sangue ele vai sugar!”
Entrega-se ao terror.

E aí, antes que o bicho
O ataque novamente,
Toma a iniciativa
Agindo, assim, de repente:
Pegando o chinelo, mira
Sua cabeça e atira.
Não o acerta, felizmente!

E o coitado do morcego
Que ali, inocentemente, 
Veio só para dormir
E acordara dolente,
Mais cedo, pela mudança
Do tempo, agora alcança
Um inimigo pela frente.

O dia escurecera
Mais cedo, pois que nublado
Estava. E parecia
Que a noite havia chegado
Fazendo o “bicho” acordar
Mais cedo para voar.
Estava, pois, desgraçado!

É que o homem assustado,
Com a zoada provocada
Pelo seu bater de asas,
Já vem de mão levantada
Num ataque enfurecido,
Pegando-o desprevenido,
Com a guarda desarmada.

E uma coisa era certa:
Mesmo sem compreender,
Ele sabe que teria, 
Então, que se defender
Daquele ser furioso
Que parece um cão raivoso!
Ou breve iria morrer.

Voando de um canto a outro,
O mais rápido que podia,
Para evitar o ataque
De Memor, que o perseguia.
E, deste, a fúria aumentava.
Á medida que errava
O ataque, a fúria crescia.

E mais colérico voltava
Para tentar pôr um fim 
À vida do indefeso
Notívago ser que, assim,
Vendo um claro no telhado,
Tenta passar, mas, coitado!
É o começo do fim.

Tentando escapar ao cerco
Que o homem lhe preparou,
Busca atingir uma brecha
Que no telhado avistou
Num vôo reto e certeiro.
Mas este é o derradeiro
Vôo que ele efetuou.

A milésimos de segundo
Para a saída atingir
Sente forte dor na asa
Esquerda e, a seguir,
O seu vôo foi tolhido.
E vê-se no chão caído
Sem ter como prosseguir.

Estatelado no chão,
Numa queda fofa - um nada
Nas mãos do homem que acha
Que, enfim, ganhou a parada
Por ter matado o arremedo
De bicho que lhe fez medo.
Pra si, vitória alcançada.

Irá, o pobre morcego,
Cruelmente assassinado,
Servir de pesquisa ao leigo
Com estudo programado
Que ignora a cena
Cruel que o homem, sem pena,
Impôs ao ser estudado.
      
       ...
E volta o homem à leitura,
Depois de recuperado
Do embate com o morcego.
Agora, lê Jorge Amado.
É um romance de amor
Que, ora, envolve Memor,
Deixando-o enfeitiçado.

Ele, agora, é personagem:
Em vida, ato e fato.
Sente as carícias, os beijos...
Do namoro, o aparato.
Como se estivesse sendo
Persona do que está lendo.
Já não é mais um relato.

Totalmente absorvido
Pela leitura, ele sente,
Em meio ao que o envolve,
No peito, um suor quente.
E sobre a mesa inda vê
Do mesmo peito correr
Um líquido bem diferente.

Um líquido vermelho e grosso.
E ele, entorpecido
Pelo falso e o real,
Está como sem sentido:
Sem saber se está sonhando
Ou acordado pensando
Em algo desconhecido.

Despertando do torpor,
Em torno de si, voar,
Vê um morcego saciado!
Que parece desfilar.
Com a boca ensangüentada.
Satisfeita! Jubilada!
Pois pudera se vingar.

O homem, buscando agir,
Tenta o morcego atacar!
Mas não consegue. E ocorre
Algo que o vai aterrar
Transforma-se num morcego.
E, ao livro, num arrenego,
Ele, de tal, vai culpar.

Pensa ter virado pássaro!
E isso o deixa feliz.
Mas, no momento seguinte,
O seu destino o desdiz:
Não é rato. Não é homem.
Maus pensares o consomem.
E a sua sorte maldiz.

A biblioteca deixa,
Flutuando, pra encontrar
O amor que o romance
Que lera o fez desejar.
Sente-se livre, liberto!
Porém já não sabe, ao certo,
Se está voando ou a andar.

Fim.

Natal-RN / Salvador-BA
Dez 2007 - 03/01/2008


MENDAZ INDEPENDÊNCIA


Buscando paz e silêncio,
Estava a perambular
Pelas ruas de Natal
Naquele dia sem par,
Um feriado de sol
Que iluminava o Atol
Das Rocas, pondo-o a brilhar.

O Dia da Independência!
Feriado nacional.
Não se via muitos carros
Nem na rua principal.
E a taciturnidade
Comandava, na verdade,
Nesse dia especial.

O astro-rei honra o nome
Que, um dia, alguém lhe dera,
Enaltecendo a cidade
Que, popularmente, era
Conhecida como sua,
Cobrindo cada uma rua
Como outrora fizera.

E nos poucos transeuntes
Que pelas ruas passavam,
Podia-se perceber
Que, dali, eles gostavam.
Os seus rostos, com clareza,
Mostravam que, com certeza,
A cidade eles amavam.

Sem a zoada dos carros,
Sem muita gente na rua,
Podiam-se ouvir os pássaros
No seu gorjear, que atua
Como um calmante ao estresse,
Arrulhando, como em prece
Ao deus Sol e à deusa Lua.

Bem-te-vis, pardais, rolinhas,
Os pássaros que buscaram
Se acostumar com o meio
Urbano, e que ficaram,
Fugindo à exterminação
Dos homens sem coração
Que seu habitat roubaram.

Era um “dia de graça”!
No qual, Natal, com certeza,
Honrava seu próprio nome:
Pela luz, pela leveza,
Pelo vazio e a paz
Que o não movimento traz
Unindo-se à Natureza.

Um dia sem aperreio!
Pleno de paz e harmonia.
Aonde o cantar dos pássaros
Felicidade irradia!
Dia da Independência
Do Brasil, com a consciência
Limpa de melancolia.

Tudo era felicidade!
Perene satisfação!
Eu me via vivenciando,
Com plena convicção,
Juntamente com a cidade,
O dia da liberdade
Da nossa amada Nação.

E o dia... mais e mais...
Eu nem sei como explicar!
Mas, a bem do veredicto,
Eu fiquei a matutar:
“Naquela paz demorada,
Ficava escamoteada
Alguma coisa no ar”.

Era uma melancolia
Que eu não sabia explicar!
A tarde, agora, se fora.
E a noite, em seu lugar,
Morna, solitária, triste,
Vem negar a paz que existe
Na tarde que eu vi passar.

Os postes, antes acesos,
À Lucina imitar
Apenas com a intenção
De paz proporcionar,
Sofrem, agora, um apagão,
Trazendo medo e tensão
Ao as trevas propagar.

E agora, o paradoxo
Da nossa maravilhosa
Independência, se mostra
Contrário. Ou, de prisão, posa.
E isso, dá-se, portanto,
Quando eu vejo, a um canto,
Uma cena horrorosa!

É a imagem da fome
Que aos meus olhos aparece.
E olhando aquela miséria
Meu coração se aquece
De um calor inesperado:
O amor por um desgraçado
Ser que, de ajuda, carece.

Um cão, um pobre coitado
Vira-lata, que dormia
No gelado chão da noite,
Na sarjeta, aquele dia,
Que, quando me viu passar,
Decidiu me acompanhar.
Seguindo-me aonde eu ia.

Rua afora, acompanhou-me,
Caladinho. Sem latir.
Cabisbaixo, macambúzio,
Me esperando decidir:
Se iria alimentá-lo 
Ou se iria enxotá-lo.
Meu coração a partir.

Eu quis tentar impedi-lo
De seguir-me, mas não deu.
Estava muito faminto
E não me obedeceu.
Deu-me dó e eu deixei
Que viesse. O alimentei
Com o que tinha. Com o que deu.

Chegando em casa, às escuras,
Que estava faltando luz,
Vi restos na geladeira
E pro cão faminto pus.
Comeu tudo. O amarrei
No alpendre e me deitei
Me encomendando a Jesus.

Uma vasilha com água
Também deixei para o cão
Antes de ir-me deitar.
E arriei no colchão,
Dormindo até de manhã
O sono da mente sã
De um justo coração.

Mas, de manhã logo cedo,
Acordo atarantado
Com a chegada da empregada
Que, afobada, ao meu lado
Reclama, quase chorando,
Com os olhos marejando
Pelo que havia encontrado.

E diz-me, escandalizada,
Que: “Uma alma ruim,
Alguém que só poderia
Ser parente de Caim!
Fizera uma maldade
Que, para ela, em verdade,
Era um ato mau sem fim!”

- Deixaram uma criança
Inocente, coitadinha!
No seu alpendre amarrada.
- Foi uma alma daninha!
- Está faminta... com frio...
- Só pode ser desvario
De uma mente mesquinha!

Ao ouvir a empregada,
O mais rápido que podia,
Corri a ver a criança.
E a minha mente dizia
Que tinha a ver com o cão
Que me acompanhara. E não
Deu outra! Era o que eu previa.

E, para minha surpresa,
Presa ainda se encontrava
No lugar em que a prendera.
Baixinho choramingava.
O meu coração murchou
E com ela também chorou
Enquanto ao colo a pegava.

Fim.
        Salvador-BA, 04/01/2008.


OIREB: O SAPECA


Mais ou menos sete anos
A idade que ele tinha.
Era um menino incomum
À meninada vizinha:
Brincalhão, inteligente,
Criativo e competente.
E mente brilhante tinha.

Com uma tendência artística
Puxando para o humor,
Destaca-se com as piadas
Jocosas. Um gozador!
Muitos o admiravam.
Só uns poucos não gostavam
Do jovem humorista-ator.

Passam-se os dias... o tempo...
Nosso Oireb vai crescendo...
E, à medida que cresce,
Ao povo vai convencendo
Da sua habilidade
E proeza. Em verdade,
Seu talento vai-se vendo.

Talento de contador
De piada inteligente,
Alegre, de historieta,
Sempre com fundo decente,
Por ele mesmo criadas,
Da sua cuca, tiradas.
Produtos da sua mente.

Suas estórias, na escola,
Era um sucesso total!
No horário do recreio,
Com o seu talento real,
Reunia a garotada
Que fica a ouvir, sentada,
Aquele ser sem igual.

Até mesmo o Geremil,
O zelador, atraído,
Foi, pelas belas estórias
E contos de Oireb, tido
Como o melhor do lugar
Para estória contar.
Um sucesso garantido.

Era clara a alegria
Que nos rostos se mostrava
Logo depois da estória
Que o nosso Oireb contava.
De Geremil, o desgosto,
Jururuzisse do rosto,
Como um milagre, afastava.

Acabava-lhe a tristeza
E o deixava feliz,
Chamando a atenção
Da maioria. E um matiz
De prazer e de alegria
Entre os colegas cria.
Sua expressão é quem diz.

Um aluno nota dez,
Não se podia dizer
Que o nosso Oireb fosse!
Mas, poder-se-ia ver:
Entre os primeiros, estava!
Entre os dez, se colocava!
E fazia por merecer.

Os professores que nunca
Mostraram interesse algum
Por quaisquer dos seus alunos,
Demonstram ora incomum
Atenção pelo rapaz,
Dizendo-o “muito capaz”!
E só se ouve o zunzum:

- É um aluno aplicado!
Oireb não dá trabalho.
Faz as tarefas de sala
De aula, e não é falho
Nas de casa. Ele dá conta
De tudo, trazendo pronta
A tarefa com cabeçalho.

- Diferente de Beril,
É menino inteligente.
E da forma que está indo
Ele terá, certamente,
Garanto e acredito
No que digo, um bonito
Bom futuro pela frente!

- Quanto a Beril, já não sei...
Já que é muito danado,
Seu futuro é duvidoso!
O presente deixa mostrado.
Não se compara ao menino
Oireb! Cujo destino
Parece que veio traçado.

- Tudo indica que Oireb
Terá futuro brilhante!
É o que se vê quando ele
Nos mostra, a cada instante,
Com seu dom pra criação,
O seu jeito brincalhão,
Expansivo e cativante.”

Porém, meu povo, o destino
Às vezes nos dá rasteira
No vai e volta da vida
Como numa brincadeira.
E quem se deixa levar
Sem reagir, sem lutar,
Se mistura à bagaceira.

Um dia, o aplicadíssimo
Oireb – o inteligente,
Criativo, brincalhão...
Sai do seu caminho: mente.
E desse dia em diante
Todos estarão diante
De um Oireb diferente.

Oireb, agora, mente
De forma espetacular!
Mentiras de todo tipo
Passa ele a inventar.
E o povo acreditava
Nas mentiras que inventava
Sem vergonha. Sem corar.

Mentia de fazer dó!
Na maior descaração!
Para os pais, pra professora,
Pro Seu Raimundo. O cão
Tornou-se, na criativa
Mentira hábil e ativa,
Sem ter consideração.

Não respeitava ninguém!
E o pior de tudo isso:
Ninguém mesmo acreditava 
Que ele fosse capaz disso.
E mente a mais valer!
Escandaliza e faz crer
Que só pode ser feitiço.

Às vezes atribuíam
Suas mentiras ao irmão
Mais velho, por não pensarem
Que ele fosse tão vilão.
Oireb não o defendia!
Deixando, à revelia,
O mau pensar sobre o irmão.

Lembro de um dia que Oireb
Fez mais uma presepada:
Um feriado à escola.
Mais uma mentira armada.
Aproveita um acidente
Com a diretora, e mente
De uma forma descarada.

Declara “O dia do fico”!
E “fica” telefonando
À professora, aos colegas,
Com voz tristonha, afirmando:
- A diretora sofreu
Um acidente, e eu
Estou lhe comunicando.

- Não haverá aula hoje!
E ela pediu-me que eu
Comunicasse a todos
Como o caso se deu:
A coitada passou mal,
Foi parar no hospital
Depois que o carro bateu.

Quarenta e cinco minutos
Foi mesmo o suficiente
Para o moleque criar
Sua história. E ele mente
Por telefone, e convence
A todos. E, assim, vence
Seu propósito alegremente.

Resultado: A professora,
E nenhum aluno seu,
Naquele “dia do fico”
Na Escola apareceu.
Dona Clementina, não.
Sem saber da confusão,
Na certa, apareceu!

Recuperada do susto
Da batida que sofreu,
Diretora responsável,
Veio à Escola. E ocorreu
Que ficou preocupada
Vendo a Escola fechada,
Sem saber o que se deu.

E aí sobrou para Oireb!
Que sofreu a suspensão
Primeira da sua vida.
E sem ver televisão!
Sem videogame, passeio...
Por uns dez dias, eu creio,
Ficou no castigo, então.

Mas ele não perde tempo!
E, criativo que é,
Qualquer motivo é motivo
Para que crie! E, a pé,
Vem, um dia, pela rua,
Chutando pedras, na sua...
E vejam como é que é:

Depara-se com uma sena,
Pra si, espetacular!
O alcoólatra Sined,
Que lhe pareceu estar
Morto. Pois, no chão jogado...
Um pacote amarfanhado,
Deu-lhe motivo a espalhar

Que o Sined morrera.
E o primeiro, o Seu Raimundo,
Ajudou-o a publicar
A notícia a todo mundo.
Só que, no dia seguinte,
Como pra fazer acinte,
Lá estava o vagabundo.

De manhã, logo cedinho,
Lá no Bar do Seu Chicó,
Está Sined tomando
Uma caninha. Olhem só!
Vendo que Oireb mentiu,
C’outro olhar o bairro o viu.
E dele não teve dó.

Seu Raimundo, desgostoso
Com a mentira do menino
Que o fez mentir também,
Quase entra em desatino.
Mas, ao falar com o garoto,
Grande gozador, maroto,
Muda de pensar e tino.

Depois de ouvir o moleque,
Que mostrou-se admirado
Com a zanga do Seu Raimundo,
Dizendo: - O pobre coitado
Do Sined já morreu 
Há muito! E o povo esqueceu
De enterrar o danado.

Seu Raimundo não resiste!
E a zanga, em vez de aumentar
Contra Oireb, o que ocorreu
Foi que se pôs a gargalhar,
Dizendo: - A gente quer ter
Raiva, mas, o que fazer?
E segue a rir sem parar.

Quando Sined morreu
E Oireb notificou
Sua morte de verdade,
Ninguém mais acreditou.
E assim, como indigente,
Sem cortejo minha gente!
O Sined se enterrou.

E a mentira maior
Que Oireb inventou,
Deu-se com seu próprio fim
De mentiroso. O levou.
Pois uma das tais estórias,
Que criava com vanglórias,
Da humanidade o tirou.

As mentiras de Oireb
Cresceram a mais não poder,
Fazendo que aquela gente,
Nele, não viesse a crer
Mais. Nem que ele dissesse
Uma verdade e, em prece,
Jurasse verdade ser.

Sua mentira, agora,
Do seu ser tomava conta.
Era desacreditado
Pela pessoa mais tonta.
Sua mentira o engolira.
Era, ora, a própria mentira.
Comparação era afronta.

Morando perto do Rio
Potengi, na Zona Norte
De Natal – a Capital
Do Rio Grande do Norte,
Ali, onde se contavam
Estórias que assustavam
Até o homem mais forte.

Estórias de peixes grandes,
Gigantescos; jacarés
Que desciam nas enchentes
Em meio aos igarapés,
E que engoliam, ligeiro,
Um homem de corpo inteiro
Sem deixar, sequer, os pés.

Eram estórias contadas
Pelo povo do lugar
Que Oireb incrementava
Pra podê-la repassar.
E asas à imaginação
Dava ele para, então,
De nova forma contar.

E, assim, achou de inventar
A sua grande mentira:
Uma mentira tão grande
Como o lugar jamais vira!
E a quem vai e quem volta
Conta a seguinte lorota,
A sua maior mentira:

-Gente, por favor, não desçam
Para o rio tomar banho!
Pois lá tem um jacaré
E um peixe de tamanho
Descomunal que, de vez,
Engole pra mais de três
Pessoas, num abocanho.

E Oireb passou a tarde
Mentindo pra quem passava
Ali na beira do rio,
Sem ver que a noite chegava.
Mentiu tanto que dormiu.
E dormindo, em sonho, viu
Algo que o assustava.

Sonhou que o peixe engolira,
Junto com o jacaré,
Toda aquela boa gente
Que passara ali a pé
Pra ir pro rio. E, assustado,
Acordou atarantado
Naquilo botando fé.

Sentiu-se arrependido
Das mentiras que inventou.
E para tirar a limpo
O sonho, se deslocou
Para o rio que, tranqüilo,
Assistia a tudo aquilo.
E Oireb se arrepiou.

Não encontrou viva alma
Da gente que vira vir,
À tarde, em busca do rio.
Levando-o a deduzir:
- O povo foi engolido
Pelo jacaré, comido
Imaginou a fremir.

A noite, silenciosa,
Rapidamente cresceu.
As profundezas do rio
A Oireb recebeu.
Num Peixaré o encantou.
Alguém que viu, me contou!
De graça, a estória me deu.


Nota:
Agora era um menino com cauda de peixe e rosto de jacaré, que de sete em sete anos aparece no Povoado do Galo, na figura de um garoto querido e alegre. Ou seja, a contar suas estória e piadas. Mas, quando começa a mentir, desaparece misteriosamente e, de novo, se encanta em um peixaré.


Fim

Salvador - BA, 08/01/2008.




A LENDA DA VIÚVA MACHADO:
A MULHER PAPA-FIGO


É a história de Eulinda
Lucina Machado, que
Transformou-se numa lenda
Quando ainda viva, e
Agora tornou-se conto,
Mostrada ponto por ponto
Pelo poeta MC.

Mulher com mais de cem anos,
De recursos, bem dotada.
De aspecto aterrorizante
E roupagem ultrapassada,
Morava sozinha com
A Dona Marileon,
Que era a sua empregada.

“No seu passado, sofreu
Uma grande decepção.”
Diz Dona Marileon.
E, assim, seu coração 
Junto com o corpo, afinal,
Sofreu uma radical
E grande transformação.

Marileon era negra
E à viúva servia
Há sete ou oito décadas!
Ao real, não se sabia
Quantas. Porém, se acredita
Que a empregada da dita
A mesma idade teria.

Morava Marileon,
De quem agora vos falo,
Com o seu filho Adud
No Povoado do Galo,
Bem à margem da estrada
De ferro que faz ligada
Natal/Macau- sem um valo

Adud era um pescador
Mui querido e respeitado
No Povarejo do Galo.
Sua mãe, por outro lado,
Nos dias que em casa estava
Nunca se comunicava.
E trabalhava pesado.

Limpava a erva daninha
Curvada sobre a enxada,
Sob um sol escaldante
Na folga que lhe era dada
Pela patroa, que era
Companheira de uma era
E a quem estava ligada.

Num acenar taciturno,
Ou seja, gesticulando,
Como a conversar com Deus
E do mundo se afastando,
Num “conhece-te a ti mesmo”,
Socraticamente, a esmo,
Consigo mesmo falando.

O Senhor Oivatum,
Por ela, foi sabedor
Da verdadeira história
Do “Papa-figo”, doutor!
Da tal viúva Machado
Que residia no Estado
Do RN, sim Senhor!

“Eulinda havia casado
Ainda muito novinha!
Quando subiu ao altar,
Talvez treze anos, tinha.
Sua mãe muito chorou!
De vez que se separou
Da sua única filhinha.

Fins do Século Dezenove.
E o casamento ocorreu
Num clima de festa ímpar!
A maior que aconteceu
No Brasil naquele ano.
Mas, lenda, o destino insano,
Do fato fez. Distorceu.

Durou mais de uma semana
A festa do casamento,
Sendo convidado, até,
O rei para o tal evento.
Dom Pedro e Dona Maria
Leopoldina, no tal dia,
Foi, das atenções, o centro.

Uma festa bem sortida
De: música, comida, dança.
Minha mãe cuidou, com zelo,
Da noiva – ainda criança
Como eu, que, no momento,
Só tinha no pensamento
Comida pra minha pança.

E a menina Dona Eulinda,
Que era muito legal,
Deixava bem à vontade
A criadagem em geral.
E, em outras fazendas, tinham
Criados que ali vinham
Para ajudar, afinal.

Terminando a festa, parte
O par em lua-de-mel
Numa linda carruagem. 
Pareciam estar no Céu.
Porém na volta, a desgraça
Os espera. E, agora, a taça
De mel passa a ser de fel.

A carruagem caiu
Num precipício sem fim.
Morreu, instantaneamente,
O príncipe. E Eulinda, assim,
Vendo morto o coração,
Entrou naquele porão
Fazendo dele o seu fim.”

- E quando mamãe morreu
Deixou-me, pois, como herança,
Cuidar da pequena Eulinda,
Para ela, uma criança!
E aí, o povo, malvado
Que é, “Viúva Machado”
A chama. E maldade lança.

- uma história absurda
Que até hoje não entendo!
E dessa história, então,
Vejam o que estou dizendo,
É que surgiu o boato
Da “papa-figo”, de fato,
Como verdade crescendo.

Nas noites de lua cheia
A meninada arranjava
Vários modos de brincar
E pela noite adentrava,
Brincando de modo vário:
De “assobia-meu-canário...”
E do que se apresentava.

Brincavam de “esconde-esconde”,
De “bandeirinha”, de “tica”...
E de muitas outras coisas!
Mas o que na mente fica
São histórias “encantadas”
Que, de “Trancoso” chamadas,
Como ensino, se aplica.

Estórias que Mãe Amélia,
Sentada à porta, contava.
No batente, à meninada
Que, dispersa, se juntava
No terreiro, na calçada,
Numa noite enluarada.
E a turma se arrepiava.

A estória da Moura Torta;
A da madrasta malvada
Que deixou a menina, viva,
No capinzal, enterrada;
A do Batatão-de-Fogo;
A do Lobisomem – um jogo
De estória mal-assobrada.

Porém, a mais esperada
Das estórias, afinal,
Era a da “papa-figo”,
Aquela aqui de Natal.
A da Viúva Machado.
Que deixava arrepiado
O mais valente mortal.

Era a estória de uma velha
Que morava num porão.
E, pra toda a meninada,
Era um ser sem coração!
Pois que mandava pegar
Criancinhas e matar,
Sem dó e sem compaixão.

Matava para tirar 
O fígado pra comer.
E a criançada ouvindo
Aquilo, põe-se a tremer.
E não há calor que aqueça
O frio dos pés à cabeça
Que os faz estremecer.

Tudo isso, por saber
Que Dona Marileon
Morava ali por perto.
Pois que, ela tem o dom
De lembrar-lhes a figura
Da assombrosa criatura.
O que não é nada bom!

E só porque a coitada
Da Marileon serviu
À velha durante anos,
Isso, então, lhe garantiu
A fama de possuir
Algo estranho. Sem pedir,
Ouvi de alguém que a viu.

E, “estória de Trancoso”,
Já não mais nos parecia
Mas, fatos. Que Mãe Amélia,
Como estórias, nos dizia.
Pois é que aquela empregada,
Toda semana, a danada,
Uma viagem fazia.

Viagem misteriosa
Para alguém daquela idade,
Com um saco, às costas, sozinha.
Um enigma de verdade.
Um homem a viu, certo dia,
Na Cidade, e ela ia
Andando em velocidade.

Seguindo-a, ele a viu
Entrando no casarão
Onde a vivia a Viúva
Machado, lá no porão.
E então se inquiriu:
Será que o saco que viu
Era de fígado? Ou não?!


A Estória da Viúva, 
Para toda a meninada,
Era a mais real de todas
Por Mãe Amélia contada,
Devido à proximidade
Que havia, na verdade,
Com a sua velha empregada.

A velha era taciturna.
Nada dizia ou falava.
Mas a taciturnidade
Dela é que incomodava.
O silêncio mumificado
Do seu viver isolado,
Às crianças, assustava.

E ao passar pela Linha,
Vendo-a, ao terreiro limpando
Com uma enxada, corcunda,
Quase no chão se fincando,
Olham-se, desconfiados,
Dizendo, arrepiados:
“Ela está se disfarçando!”

“Está querendo pegar
Um da gente. Pode crer!
Um besta para levar
Para a viúva comer
O figo! É o que ela faz.
E assim sendo, nunca mais
A nossa mãe vai nos ver”.

E quando a pobre coitada
Da velha a vista elevava,
Sendo o Seu Oivatum
O único a quem dedicava
Um pouco da sua fala,
Pouco diz. Quando não cala!
Um dia, dá-lhe uma trava.

Nesse dia, Seu Oivatum,
Que é o pai de Ossiab,
Acreditando-se amigo,
Quis saber a sua idade.
E ela, assim de momento:
- Mas ora que cabimento!...
Deixou-o só na vontade.

Não gostando da pergunta:
- Me respeite, seu minino!...
- Sabe sua escanchavó?...
Sou mais velha! Tenha tino!
- Não lhe dei intimidade
Pra perguntar minha idade.
- Ora, mas que desatino!

Seu Oivatum percebeu
Que a estava incomodando.
Aí não fez mais perguntas,
Mas prosseguiu conversando.
Porém quando ela cismava,
Simplesmente o dispensava!
Pra sua casa o mandando.

Mesmo assim, davam-se bem!
E voltavam a conversar
Vez por outra, quando a velha
Dispunha-se a aceitar.
E a conversa deu margem
Para abrir uma passagem
Para Ossiab entrar.

Agora o medo se fora!
Pois, Ossiab, tremendo
De início, a um pedido
Do Seu Adud atendendo,
Levou água pra mãe dele.
E a surpresa que ele
Teve, só mesmo se vendo.

Pois quando ela o viu, magrinho,
Com aquele peso às costas,
Uma compaixão medonha
Pelo menino deu mostras.
E o medo aterrorizante
Foi sumindo a cada instante.
Nem sente o galão às costas.

Ainda meio assombrado
Pela forma que ela tinha,
Ele se achava. Mas,
De repente, um luz que vinha
De fora, lhe apaziguou.
Pois o Seu Adud entrou
E foi direto à cozinha.

E a velha, satisfeita,
Pelo serviço prestado,
Enfiou a mão no bolso
Do seu vestido rendado,
Deu uma prata ao menino
Que, aí, recobrou o tino
Do qual se havia afastado.

Este, mal acreditando
Em tudo aquilo que via,
Sente-se o mais feliz
Dos meninos, nesse dia.
Sai, prometendo voltar
Sempre que ela precisar,
Irradiando alegria.

Recebera o pagamento
À vista! E ele vibrou
Com isso. E Marileon
À viúva o apresentou.
E ele tornou-se amigo
Das duas. E eu lhes digo:
Bons presentinhos ganhou!

Fim.
Salvador-BA, 11/01/2008.


O BOSQUE ENCANTADO


Começa o conto falando
De um bosque encantado.
Era um domingo à tarde
De um dia ensolarado,
Onde dois jovens passeiam
Conversam e saboreiam
Um sorvete, lado a lado.

Tavyk e Mauryk são
Os jovens de quem vos falo
E que, intensamente, vivem
O tal momento em regalo:
Com sorvetes, com pipocas,
Visitando algumas tocas.
E um deles já sente um calo.

Tinham visto quase todos
Pontos mais interessantes
E a visita encerrava
Dali a alguns instantes.
Porém um lugar havia
Que a eles provocaria
Sensações arrepiantes.

Era uma caverna escura
De aspecto assustador
Chegava a dar calafrios
Provocando-lhes terror.
Porém decidiram entrar
E a caverna explorar,
Afugentando o pavor.

O sol desaparecia,
Lentamente, por detrás
Das samaumeiras gigantes,
Que belos desenhos faz
Na areia – as nativas
Árvores – personas vivas
Que, de prazer, nos compraz. 

Tavyk foi o primeiro
A, na caverna, adentrar,
E a sentir algo estranho
Às suas costas soprar.
Era como se alguém,
Que ele não sabia quem,
Quisesse lhe assustar.

Logo depois de Tavyk
Era Mauryk quem vinha.
E sentiu o mesmo vento
A traspassar-lhe a espinha.
E, de repente, uma sombra
Negra, zuenta, que assombra,
Para cima deles, vinha.

Era um barulho infernal!
Os dois põem-se a correr
Entrando e saindo ruas
Sem saber o que fazer.
As pernas, falha não falha,
Deparam-se com a muralha.
- Um castelo! Podem crer!

Sobem as escadas em vêem
Um Lobo – o guardião
Da floresta. Olhar atento
Ao sem-fim da mata. Então,
Vendo-o com os olhos parados
Ficam, pois, mais assustados.
Com o coração na mão.

Porém o Lobo era manso,
Camarada, bom amigo!
Ofereceu-se aos rapazes
Pra tirá-los do perigo.
E logo os levou dali,
Dizendo: - Vocês, aqui,
Correm perigo, eu lhes digo.

E o Lobo, com os dois no lombo,
Corria quase a voar,
Com os rapazes segurando
Nos pelos pra não tombar,
Num vai e vem parecendo
Que não estava sabendo
Como a saída encontrar.

É que o Lobo, que era
Acostumado a ficar
Somente sobre as muralhas,
Estava a se atrapalhar
Com a noite já chegando
E por isso demorando
À saída, localizar.

Atravessaram a ponte
Onde a Iara protegia
Rios e lagos do bosque.
E àquela hora do dia
Era o horário escolhido
Por ela para o devido
Banho da tarde. E o fazia.

Banhava-se acompanhada
Pelos bichos do lugar:
Tambaquis e tartarugas
Que ficavam a observar
Obedientes, quietinhas,
Como boas amiguinhas
Sua fada se banhar.

Ela esperava as visitas
Saírem para poder
Tomar seu banho, tranquila.
Nesse dia, sem prever,
Ficou surpresa olhando,
Ao ver-nos ali passando,
Meio pasma, sem entender.

Para o seu bem, a Iara
Não viu que eram crianças
Que iam ao lombo do Lobo,
Continuou, suas tranças
Lavando tranquilamente.
Porém algo em sua mente
Ficou. Como que lembranças.

Achou estranho o Lobo
Naquela velocidade
Àquela hora da noite!
Então, pensou: na verdade,
Podia ser o Saci
Que passara por ali.
Seria realidade?

Ou seria a Caipora
Que teria preferido,
Naquela noite, o dorso
Do Lobo ao do seu querido
Porco do mato? Indagava
A si mesmo a Iara, parva,
Não encontrando sentido.

Porém o Lobo, ao passar,
Percebeu que ela estava
Expondo sua beleza
Enquanto ali se banhava,
E seu belo cabelo, afago
Às plácidas águas do lago,
Carinhosamente, dava.

Assim sendo, fez de tudo
Pra que ela não percebesse.
Além disso, tinha pressa!
Antes que anoitecesse
Teria que transportar
Os meninos pra um lugar
Seguro. O caso é esse.

E teria, também, que 
Retornar ao seu lugar
Rapidamente, pois era
Seu dever observar
A parte superior
Da floresta, sim senhor!
Ou caro, iria pagar.

Por isso que ele corria
Como se estando assustado.
Enquanto isso os meninos,
Olhando um e outro lado,
Faziam, com a vista ativa,
Uma retrospectiva
Do que já haviam passado.

Tudo o que haviam visto,
Viam agora novamente
Porém em velocidade
E tudo de trás pra frente.
Além disso, a bicharada,
Agora, estava assustada.
E isso se ver. Se sente.

O problema era que o Lobo
Que só queria ajudar
Mas que pouco conhecia
Daquele belo lugar,
Faz um barulho infernal
À procura do local
Para os meninos deixar.

E os garotos, que tinham,
Com o susto, emudecido,
Não conseguiam ajudar
Mostrando o conhecido
Caminho para voltar.
Nada conseguem falar!
Os dois pensam: - Estou perdido!

O vento frio os seguia
Sem parar nenhum instante.
Ninguém olhava pra trás
Com o medo horripilante
Que o tal vento causava.
Nem mesmo o Lobo ousava
Olhar pra trás! Segue adiante.

Só depois de muito tempo
É que conseguem encontrar
A saída que procuram.
E aí, Tavyk, a gritar:
- Seu Lobo, é por ali!
- O caminho é por ali!
- O portão já vai fechar!!

Só aí, se lembrou, o Lobo,
Que os guardiões da entrada
Do bosque eram seus amigos.
Mas, àquela hora avançada,
Certamente, ele sabia,
A guarda prepararia
Aos mesmos uma cilada.

Já que eles adoravam
Assustar a meninada,
O Lobo prevendo a trama,
Prepara uma driblada:
Pula por cima dos mesmos.
E eles ficam a esmo
Sem conseguir fazer nada.

Nem mesmo o cheiro sentiram
Quando, sobre si, pularam
O Lobo e os dois meninos
Que, aos guardas, enganaram,
Num pulo que no portão
Já caíram. E, então,
Os garotos “despertaram”.

Pois, só aí, os meninos
Despertaram do torpor
Que os havia dominado
Pelo medo – um terror
Nunca antes conhecido!
E que os deixara tolhido
Da fala... e até da dor.

Recobrando a consciência,
Com a maior tranqüilidade,
Vêem, à luz de néon
Que ilumina a Cidade,
Que estão fora do perigo.
E agradecem ao Lobo, amigo
Dos bons mesmo de verdade.

E, aí, mais corajosos,
Consciência recobrada,
Tavyk e Mauryk, ao claro,
Arriscam uma espiada:
Olham para trás, buscando
Ver o que está se passando
Lá na Floresta Encantada.

E o que viram os deixa
Com a pele arrepiada:
A imensa floresta negra
Com a boca escancarada.
O bicho enorme e horrendo
Que os trouxera correndo
Ou voando, até a entrada.

Um bicho de asas abertas
Voando em todos os lados
Procurando esconder-se
Dos cantos iluminados
Pros seus olhos proteger,
Não se ofuscar e puder
Perseguir os assustados.

Era o “Dono da Caverna”.
Era o Velho Morcegão!
Que faz àqueles garotos
Pulsar forte o coração.
E agora, recobrados,
Porém ainda gelados,
Fecham os olhos à visão.

Ainda conseguem ver
O Lobo a conversar
Com aqueles homenzinhos
Que os queria pegar.
E os meninos dizem: - Deve
Ser os da Branca de Neve!
Três deles. Pode apostar!

Certamente que não eram!
Eram homens da proteção
Daquele Bosque Encantado
Que estavam de prontidão
Para proteger, com garra,
A fauna e a flora, da marra
De algum espertalhão.

Mormente aquele oásis
Que um Bosque Encantado tem
E que está localizado 
Bem no pulmão de Belém,
Onde a garotada, “esperta”,
Se achando o máximo, na certa,
Pra bagunçar, ali vem.

O mais estranho, que acham
De tudo aquilo, é que 
Os três homens que ali vêem
Faz que lembrem de um ser
De uma estória que ouviram,
Que leram ou que assistiram.
Mas não lembram onde. Por que?!

Um deles, só uma perna
Tinha. O outro, com pés
Virados pra trás, pisava,
Assim, pois, de revestrés.
O terceiro, digo a vocês:
Ainda mais estranho, três
Pernas tinha. Ambas com pés.

Num zupt, como acordando
Dum pesadelo sem fim,
Surgem os pais dos meninos!
E um deles pergunta assim:
- Como é mesmo, gostaram
Do passeio ou não gostaram?
- Contem como foi, pra mim!

Sem responder, os meninos
Apenas se entreolharam
Pois não queriam contar
As coisas por que passaram.
Os pais os chamam pra ir
Embora. Começam a rir.
Porém nada lhe contaram.

Dia seguinte acordaram
Com sua mãe lhes chamando.
Primeiro dia de aula,
Os dois acordam lembrando
Das longas férias tiradas;
Das aventuras passadas
Naquele dia nefando.

Primeiro dia de aula,
Novo ano que começa!
Os dois levantam sorrindo,
Devagar, não têm pressa.
Lembram a aventura passada.
Sua mãe não entende nada
Do que fala, da conversa.

Têm que escovar os dentes,
Tomar banho, se trocar.
O primeiro dia de aula
Os dois não podem faltar.
Têm muitas novidades
Pra contar. Se são verdades,
Isso é um caso a pensar.           

 Fim
Salvador-BA (Praia de Jardim de Alah) 13/01/2008 –17h30min


A LENDA DO BATATÃO DE FOGO


Certo dia dois amigos
Pescadores convidaram
Um amigo jornalista
E mar adentro rumaram.
A idéia, ali, seria
Mostrar uma pescaria.
Ao jornalista, afirmaram.

É que o dito jornalista
Queria participar
Duma pescaria in loco
Para poder registrar
Aquela realidade
Numa pesca de verdade
A noite inteira no mar.

Quem sabe, faria um livro!
Contando a tal pescaria
E todo o preparativo
Que, para a tal, se faria:
A noite dos pescadores,
Seus sucessos, suas dores,
Até o raiar do dia.

Chega o dia, afinal!
Ou a noite, a bem dizer!
Lá se foi o jornalista
Feliz da vida e a morrer
De medo, por outro lado,
Pois nunca havia embarcado!
Estava, pois, a tremer.

E enquanto os dois pescadores
Vestiam-se, simplesmente,
Com uma roupa rotineira,
O amigo, tendo em mente
O medo de ser picado
Por inseto, empacotado
Vai. E diz ser previdente.

Os amigos riram dele
Que disse a olhar a esmo.
Ora! “Um homem prevenido
Bem vale por ele mesmo!”
E lá se vão pra maré,
Os três, caminhando a pé
Naquele caminho ermo.

Tratava-se, a pescaria,
Duma espécie de tapagem
Onde fincavam-se varas
Na lama, em uma e outra margem,
Antes da maré encher.
Por isso tinha que ser
À noitinha. E eles agem.

Nas varas punham a rede,
Enquanto a maré subia,
Estendida, esperando
A maré que alcançaria
Nível máximo. Arriavam
A rede - a fixavam
Às forquilhas, findo o dia.

Quando a maré começasse
A baixar, então, seria
A hora tão esperada
Para a dita pescaria
Do amigo jornalista
Que sonha por na Revista
Tudo que ali veria.

Ele não perde um detalhe
Do que fazem os pescadores,
Que não demonstram cansaço
E nem reclamam de dores,
Como escritor realista, 
Que é, tudo vê e lista
Com detalhes e com cores.

Passava da meia noite
Quando a maré começou
A vazar. E a rede presa
Por forquilhas, já fechou
A vala, encurralando
Os peixes que, assim, pulando,
Um espetáculo doou.

A uma certa distância
Estava o pesquisador
A observar, boquiaberto,
O espetáculo encantador
Que era proporcionado
Pelos peixes. E, encantado,
Viu que era compensador.

O belo da Natureza
Mostrava-se, ali, em parte,
Num quadro espetacular
Como uma obra de arte:
Peixes dos mais variados,
Aos pulos, misturados.
Não é quadro de descarte.

E os pescadores que nunca
Tinham visto peixe assim
Em quantidade tamanha,
Felizes, dizem por fim:
- O nosso amigo é “pé quente”!
Trouxe sorte para a gente.
E que continue assim!

Noite escura como breu!
A canoa clareada 
Pela frágil lamparina
Que logo foi apagada
Pela brisa, agora, forte,
Com o vento vindo do Norte.
E já não se via nada.

Agora, na extensão 
Da palavra, tudo é breu!
Até mesmo a consciência
Do amigo escureceu.
A alma fica tomada
Pelo terror. Congelada!
Porém logo se aqueceu.

O medo é atenuado
Por uma luz que ele viu:
Uma luz vinda das águas
E que em seu ser refletiu.
Uma luz que não se apaga?!
Temeroso, ele se indaga.
E novo medo sentiu.

Hesitou, porém, querendo
O momento registrar,
Enfrentou os seus temores.
Queria documentar
Aquele momento único,
Transcendente, mediúnico,
Não deixaria passar!

Como documentarista
Não poderia deixar
Que o medo o dominasse.
Teria que controlar
O medo para poder
Registrar e transcrever
Tudo, sem nada escapar.

De repente, em sua mente,
Algo o faz entender,
Perfeitamente, que aquele
Fogo nada tinha a ver
Com a luz da lamparina
Pois era uma luz mais fina,
Intensa, e sempre a crescer.

Um fogo devastador,
Incrivelmente a andar
Na superfície das águas,
Buscando o que queimar.
Pior, é que em direção
Dos seus amigos, então,
Ia o mesmo a se espalhar.

Os pescadores, felizes
Com a grande quantidade
De peixes, nem percebiam
O perigo, na verdade.
O amigo tenta avisa-los
Que o fogo irá alcança-los,
Antes que já seja tarde.

Porém a voz não lhe sai
Da garganta. Emudecera.
Procura tranqüilizar-se,
Sair daquela leseira.
Consegue abandonar
A canoa. Busca chegar
À terra. E sai na carreira.

Precisa buscar ajuda!
E, olhando para trás,
Teme que seja inútil!
Pois o que ele vê lhe faz
Pensar: - Não vou retornar
A tempo para os salvar!
E corre cada vez mais.

E corre como quem voa!
Qual pedra de baladeira.
E o clarão da maré
Alumia-lhe a carreira.
No primeiro orelhão
Que topa, faz ligação
Pedindo ajuda ligeira!

Liga para a emergência,
Pro Cento e Noventa e Três,
Que é o Corpo de Bombeiros.
E já passava das três
Da manhã. Àquela altura,
Pensava: - Não tem mais cura!
Morreram mesmo! De vez!

Chegam os bombeiros. Começa
O combate ao inimigo
Que, sobrenaturalmente,
Resiste ao grande castigo.
Trinta minutos de água
Direto, o fogo não apaga.
Isso desespera o amigo.

Mas o amigo e os bombeiros
Não têm superstição!
E o perscrutador registra,
Transido de emoção,
Entre o medo e o prazer,
A forma má de morrer
Dos amigos de então.

Todos, já muito cansados,
Decidiram por chamar
Reforço pra combater
O fogo. Para ajudar
Para que a destruição
Não chegasse à proporção
De devastação sem par.

Nisso, o amigo escritor
Risca um fósforo pra acender
Seu charuto. E vejam só
O que veio a acontecer:
O fogaréu se apagou
E a paz, afinal, voltou!
E ninguém sabe responder

O porquê daquele fogo
Que não matou nem queimou!
Pois, os amigos, ilesos,
Sorridentes, sim Senhor!
Com a canoa transbordando
De peixes, vêm comentando,
Da pescaria, o valor.

E gritam para o amigo,
Em forma de brincadeira,
Que “ ele é prevenido!”
Já que um caminhão (de feira)
Trouxera para levar 
O peixe. E a gargalhar,
Brincam com a sua asneira.

E decorrido algum tempo
O escritor perguntou,
Meio vexado, a um deles:
- Explica-me, por favor:
Que fogo era aquele mesmo?
Pois ainda estou a esmo
Com tudo o que se passou!

- O FOGO DO BATATÃO!
- Não o conhece, rapaz?!
Em seguida, perguntou,
Andando e olhando pra trás:
- Quem foi que o fósforo acendeu?
O in-feliz diz: - Fui eu!
            ...
E como escritor, escreveu
A LENDA. E o fez bem demais!

Salvador-BA, 15/01/2008 – 03h18min


A LENDA DA MANGUEIRA DO 8:
O HOMEM SEM CABEÇA

Trata-se de uma lenda
De ambição e terror
Onde dois velhos amigos,
Pelo ouro sedutor,
Esquecem a amizade
Ou o verdadeiro amor.

Mas vamos ao que interessa
Nesta história de ambição:
Conta-se que existia
Numa enorme mangueirão,
Dita “mangueira do oito”,
Uma velha assombração.

Uma botija assombrada
Que alguém havia enterrado
Quando ainda era vivo
E que, agora, necessitado
Da salvação, vem doar
A quem for desassombrado.

E dois homens corajosos,
Que um do outro, diz-se amigo,
Dizem: - Custe o que custar!
Qualquer que seja o perigo,
Nós iremos arrancá-la!
Mas vejam o que vos digo:

Havia uma condição
Para a mina se arrancar,
Tinha que ser numa sexta-
Feira treze, e estar,
Se possível, à meia noite,
A lua cheia no ar.

Já que estavam decididos
Esperam a hora, o dia,
A lua cheia também.
E aí, com maestria,
Tudo que era necessário,
Pronto, na hora, estaria:

Pás, picaretas, enxadas...
E mapas não precisavam!
A lua, ao centro do céu,
O ponto X lhes mostravam:
A tal “mangueira do oito”
Com que todos se assustavam.

Os pontos estavam dados!
Só precisava coragem!
E isso aos dois não faltava.
E, assim, seguem viagem
Os dois amigos, mostrando
Que têm camaradagem.

Porém a facilidade
Com que se apresentava
É que assustava o povo
Que nunca se arriscava
A ir tirar a botija
Que, de graça, a alma dava.

Mas os homens quando viram
O lugar onde estaria
Enterrado o tal tesouro,
Sorriram de alegria
Pensando a facilidade
Com que tudo se daria.

Começaram a trabalhar 
Com a lua clareando,
Quando um estava cansado
O outro ia revezando.
E assim vão até que
O baú, findam encontrando.

Pulam e riem de alegria
Um com o outro abraçado,
Gritando: - Estamos ricos!
Em um cantar entoado.
Sem pensarem que o momento
De rir não havia chegado.

O que ainda vem pela frente
Eles não sabem medir!
Pois, quando tiram a areia
Que cobre o baú, de rir,
Param imediatamente,
Com a figura a surgir.

Duas serpentes em cruz!
E na cruz uma caveira
Com duas armas em X,
Logo abaixo. De bobeira
Ficam, ao saber que a etapa
Vencida, foi a primeira.

“Parabéns! Já conseguiram
A primeira etapa vencer.
Mas, para chegarem à outra,
Alguém terá que morrer!”
E os dois se entreolham
Como quem queira dizer:

“É você quem morrerá!
Eu não!” E, já preparados
Com a pá e a picareta,
Decidem abrirem, calados
E com cautela, o baú,
Cada um em um dos lados.

Aquele da picareta
Decidiu por destruir
O velho e enferrujado
Cadeado. E, a seguir,
O da pá ergueu a tampa.
E foi muito rápido o agir:

Os dois agem a um só tempo
Em rapidez que, a olho nu,
Não dava para dizer
Qual dos dois que, no baú,
Pegou a arma primeiro.
Leitor, eu digo pra tu:

- Eram duas armas velhas
De fogo, que dispararam
Ao mesmo tempo matando
As serpentes que agarraram
A perna de cada um deles.
Delas, eles se livraram.

Agora restava apenas
Uma bala em cada arma,
E um duelo mortal
Se apresenta como carma.
E, em questão de segundos,
Quem fica, ao outro desarma.

Com a claridade da lua
Nenhum se atreve a atirar.
Um esperando que o outro
Venha, os olhos, piscar.
Um vacilo... um descuido...
Pra, pelo ouro, matar.

Foi só a lua sumir
Para não testemunhar
Que a decisão do duelo
Veio a se concretizar.
Quando ela surge, um dos jovens
Já não mais vai levantar.

A bala, no coração
De um dos jovens, tirou
Sua chance de “enricar”.
O “ouro”, ao outro ficou.
- A riqueza é só minha!
Grita: - Eu sou rico! Eu sou!

Desce o barranco, e começa
O trabalho. Agora, sozinho!
Retira o baú e vê
Que há outro, menorzinho,
Por debaixo do primeiro,
E puxa-o devagarzinho.

E, na tampa do baú,
Descobre outra caveira.
Fica um pouco assustado,
Mas, diz-se: - Isso é besteira!
A ânsia pela riqueza
O faz quebrar a barreira.

Para o baú abrir
Ele quebra o cadeado.
E o brilho vindo dali
Deixa-lhe o olhar ofuscado,
Cegando-o por instantes.
Deixando-o atordoado.

E o brilho da luz da lua
Ajuda a irradiar
O brilho que vem das pedras,
Ao mortal iluminar.
E esse, os últimos minutos
Vive, sem desconfiar.

Pois, com as costas viradas,
Embevecido à beleza
Do tesouro à sua frente,
Não pressentiu a frieza
Da morte que se aproxima,
Saída da Natureza.

Do oco escuro do tronco
Da “mangueira do oito” sai,
Com uma foice afiada,
Uma caveira que vai,
Num tiiist, tirar-lhe o coco
Que, decepado, ali cai.

E o homem, sem cabeça,
Como um louco, um tresloucado,
Sai rua afora gritando
E correndo pra todo lado,
Num grito engasgado, horrível!
- Estou rico! Rico! Rico!!
Morreu sem saber. Coitado!


Salvador-BA, 15/01/2008 
                17h25min






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