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ADMIRADORES DAS IDEIAS

quarta-feira, 6 de abril de 2011

SÁBIA DESPEDIDA



"Até que a morte os separe, ou, até que as três décadas se consumam."
 

            Pois é, e tudo passou como se fosse um verdadeiro sonho de 3 segundos, trinta dias, ou mesmo de trinta anos. Não, aqui, nada é como se fosse, verdadeiramente, tudo é, foi e existirá mesmo entre sonho, desejo, expectativas, conquistas, decepções, realizações, afirmações e negações; renúncias constantes, opções únicas e exclusivas, prioridade unilateral, onde não se pode questionar o óbvio ululante, por que o que se foi acordado, acordado estar pelo compromisso da existência temporal de trinta longos anos ou mais, enquanto vividos intensamente, porém quão efêmero, quando extrapolado pela constância da não ansiedade e tudo renasce para uma nova existência de dor, de perda, ou, de amor e de ganho.
            Contudo, quem vai determinar essa linha é o próprio tempo dentro do preenchimento das lacunas inexoráveis que irão existir e que deverão ser administradas ou, que já deveriam vir sendo administradas com bastante antecedência, senão, o choque da perda é muito maior do que o impacto do ganho.
            Dependendo do referencial, para uns, a grande maioria, tudo é uma grande perda. É possível, se conviver como se fosse matrimonialmente com um ser e de repente se ver largado, mesmo acordado que esse laço estava determinado a ser desfeito? (até que a morte os separe, ou, até que as três décadas se consumam). Assim é a realidade dos que doam a sua vida em nome do seu ofício, após labutarem trinta, ou mais anos, como funcionário público civil ou militar. Quantos e quantos terminam por preencher a perda, a lacuna com a doença mais clássica do nosso tempo, o tal estresse, ou senão, a melancolia, a depressão, o aperreio e outros males tantos, cada vez mais inusitados, nesse contemporâneo mundo no qual vivemos denominado de nova era.
            O problema é a falta de eco àquilo que antes se fazia com tanto zelo e esmero, onde tudo estava programado para dar certo, igualmente a uma máquina, um trem, sobre os trilhos do sempre programado e estabelecido “destino”, onde as curvas não precisam de esforço nenhum para se atingir o objetivo. E quando se veem a guiar o seu próprio destino diante uma infinidade de tempo disponível para administrá-lo, se tornam incapacitados e vencidos pelo monstro da rejeição! Diga-se de passagem, que tudo não passa de uma rejeição psicológica, porque é justamente nesta hora em que o mundo espera por uma boa e sábia resposta individual ou pessoal, digo ainda, um posicionamento autônomo, uma atitude inusitada e independente, para mudar tudo que há a seu redor, porque agora, tem um trunfo poderoso que é o belo e maravilhoso TEMPO inteiro a seu inteiro dispor.
            Sabe aquela história do passarinho que viveu o tempo todo preso, e quando se abre a porta da gaiola ele continua, ali, “preso”, como se não mais tivesse asas para voar no espaço infindo da liberdade; e aquela outra, do elefante que é preso quando pequeno, por uma corrente e, cresce e fica forte, mas continua com a mesma corrente de quando era pequeno, desconhecendo o poder da sua força hercúlea. Certamente, muitas vezes somos todos passarinhos e elefantes presos em gaiolas e correntes socialmente imaginárias, impostas pelas convenções.  
            O outro referencial ainda muitíssimo raro são os que quebrarão os grilhões e verão as portas da caverna, da caserna, da taberna, literalmente abertas para resgatarem o tempo perdido naquilo em que o ofício ou o mito lhe “cerceou”, (por vezes, um compromisso selado e/ou por juramento até), muitas vezes num átimo de devaneio, em querer ser, enquanto pessoa sonhadora e inacabada de desejos e realizações, algo mais e mais daquilo que todos somos capazes de sermos por nós mesmos, em nome do amor, da simplicidade e da solidariedade naquilo que quisermos ser. Isto é, tudo na hora em que está a se despedir da amada ou do amado, do emprego, da ilusão ou da própria vida de um ente querido nosso.
            de se ter sabedoria para aceitar as despedidas que a própria natureza nos impõe. Mas afinal, quem é que se prepara para a morte de seu ente querido? Que eu saiba, nem eu, nem ninguém!  Mas assim, é que é despedir-se sabiamente.

 M. C. GARCIA é poeta e filósofo

6 comentários:

  1. Como disse não sei quem não sei onde: "As coisas findas ficam ainda mais lindas"

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  2. Poeta, poeta... profundo e intenso o teu escrito... Além de mto reflexivo...
    Pense que ainda temos vida... Manhãs, aromas, noites de lua, ainda temos passarinhos nas árvores e flores nos campos, céu, mar...
    tanta coisa linda... tanta vida...

    Meu carinho de sempre, Ro
    "Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos...

    Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido... Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre...

    Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nos e-mails trocados...

    Podemos nos telefonar... conversar algumas bobagens. Aí os dias vão passar... meses... anos... até este contato tornar-se cada vez mais raro. Vamos nos perder no tempo...

    Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas? Diremos que eram nossos amigos. E... isso vai doer tanto!!! Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida!

    A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um último adeus de um amigo. E entre lágrima nos abraçaremos...

    Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado... E nos perderemos no tempo...

    Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...

    Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores... mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!!!"
    Vinícius de Moraes

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  3. Prezado amigo, estive lendo o seu texto e vendo quão belas linhas, onde as entrelinhas denotam um choque entre o amor e a perda.Eu um humilde servo rece-acadêmico, ouso em dizer-lhe: os homens sábio não devem chorar nem deixar tranparecer as dores que não sentiu e/ou as que se encontram ocultas no fundo do coração dos amantes. Como filósofo sabes que nada acontece por acaso tudo tem uma razão de ser, no entanto,vejo que o tempo passa e as feridas se curam; claro gradativamente, resta-nos despertar para novos amanheceres pois, o charme das canções são sempre suas frases banais. Esoj.Otrebor.

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  4. Amigo meu,
    Excelente reflexão sobre perdas e despedida. É salutar para nós em tempos áridos de valores desgastados, repensarmos sobre questões essências e aprendermos a administrar o porvir com sabedoria.

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  5. Feliz Páscoa Meu Poeta!
    Meu carinho de sempre, Ro

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  6. Minhas(eus) prezadas(os) leitoras(es)

    Fico muito grato por seres meus e minhas seguidoras(res) e acima de tudo ainda tecerem seus belíssimos comentários do meu texto.

    Desejo a todas(os) muita paz e amor

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